09 novembro, 2016

Don't mourn, organize


Eu só me surpreendo com a capacidade que as pessoas têm de serem surpreendidas, nos tempos que correm.

01 novembro, 2016

O dia em que surripiei uma garrafa de água Luso júnior*


Então, as laranjas precisavam de ser ensacadas e para tal ofício eu precisava momentaneamente de fazer desaparecer a garrafa de água que me ocupava a mão e vai de surripiá-la para dentro da mala (descartei a necessidade de um cesto quando entrei no supermercado; aliás, ele descartou, o mocinho que me arrebita os humores). Corredores foram percorridos e uma mesa rolante da caixa de saída deslizou sem tremores com os outros itens que iriam ser formalmente registados. E a água na mala. Uma garrafa de água violada na minha mala, ainda por cima à espera que eu escrevesse o meu nome nela. Foi só mais tarde, à espera do pedido no Vitaminas, que o sujeito que me acompanhava e torna os meus dias mais criminosos me pergunta pela garrafa, «que é que aconteceu à água?», pergunta-me ele num tom gozão de acusação, quando o bichinho que eu tinha na garganta precisava de ser aliviado com dois goles daquela. É num lento e dramático abrir de boca, daqueles abrires que sugam até as mãos e com direito a um breve arquejo, que lhe revelo «o que aconteceu? o que aconteceu foi que não a paguei!». E então lá fomos... comer as nossas sandes saudáveis com sumos adelgaçantes, enquanto 33cl de água continuariam na minha mala, por pagar e reclamando o meu nome.

*ou O dia em que meti água.

27 outubro, 2016

Elites


Uns escrevem no seu diário, outros enviam cartas ao Presidente da República...




















@inesrebelop

26 outubro, 2016

List of people who ought to be killed


George Carlin tinha um segmento de stand-up comedy designado List of people who ought to be killed. Tratando-se de um humorista, ele não estava realmente a referir-se a pessoas singulares patologicamente perturbadas que atentam com má-fé contra a humanidade, mas antes a pessoas que incomodavam os escaninhos mais profundos do seu ser, de uma maneira muito particular. De resto, George Carlin tinha um estilo de fazer humor/sátira que transparecia que sofria muito dos nervos e que pouco era necessário para o apoquentar. Queixar-se, ele até diz no início do segmento supracitado, era o seu leitmotiv. Eu não sofro assim tanto dos nervos quanto isso mas também eu tenho os meus escaninhos sensíveis, como aliás qualquer ser humano minimamente complexo que se preze, que dão de si perante certas imagens/atitudes/comportamentos alheios. Creio que todos nós teríamos uma generosa contribuição a fazer a esta lista de pessoas que devem morrer, não?

Pois que cá fica a minha contribuição, pequenina por enquanto porque neste momento é só destas munições que disponho para espingardar:

 Raparigas com mais de 20 anos que ainda teimam em posar para fotos com a boca contorcida em forma de bico de pato. Não é bonito, glamoroso, natural. É só patético. Esta mania devia ter ficado enterrada no tempo do básico/secundário, juntamente com as canetas com plumas, a síndrome do Peter Pan e o hábito pitalhudo de passar os intervalos de braço dado com as migas4ever.

 Auto-proclamados instagrammers de comida, fitness, lifestyle e não sei quê que não se esforçam por tirar fotos minimamente decentes. Um pedaço de papas de aveia num background preto, que mais parece o estofo de um assento de carro? A sério? Já para não falar de fotos mal iluminadas, e algumas EXACTAMENTE IGUAIS em dias consecutivos... E possuir alguma sensibilidade artística antes de criar um instagram, não? Sei lá, estou a falar aqui de uma sensibilidade mínima, aquela que deverá ter nascido connosco. Parece que não se dão ao trabalho e isso irrita-me enquanto potencial seguidor, e considero uma ofensa para os mais de 1000 (embora creio que muitos serão seguidores-fantasma).

 Pessoas que deixam cair o primeiro nome de personalidades, num à-vontade imerecido. Bob Dylan passa a ser só Dylan, porquê? Pessoas famosas também têm direito ao primeiro nome, é só isto que tenho a dizer.

 Malta que embirra com o feminismo apenas porque há pessoas que usam este conceito para cometer actos ou dizer coisas que encaixam noutra categoria totalmente diferente, que pode ir de um simples desatino a uma estupidez tremenda, mas que não podem, em circunstância alguma, ser apelidados de actos feministas. Se eu usar o meu direito constitucional à liberdade de expressão para chegar à frente de um desconhecido e enfiar-lhe um pirete pelo nariz acima, só porque sim, o que será que deve ser repensado: o meu acto ou a definição de liberdade de expressão?

 «... and here's some parents who oughta be beaten with heavy clubs and left bleeding into the moonlight»: pais que decidem ter filhos (hoje em dia) porque 1) os 30 já estão aí; 2) o principal papel da mulher é, afinal, procriar; 3) o ambiente lá em casa estava a precisar de uma dinâmica diferente; 4) é a ordem natural das coisas: formei-me, casei, arranjei casa, agora o próximo passo será ter um filho. Juro que conheço quem tenha tido filhos por um ou mais destes motivos. Nunca, mas mesmo nunca, eu ouvi alguém dizer que quer ter um filho porque quer trazer um ser vivo a este mundo e educá-lo, moldá-lo de forma consciente, aproveitar todas as ocasiões para lhe transmitir valores, princípios, formas de agir, mecanismos de superação. Estimulá-lo para ser um bom ser humano, no fundo, de acordo com a sua visão do mundo. Acho que este pensamento eventualmente passa pela cabeça dos pais, mas como mera contingência, não como papel essencial supostamente inerente ao título de pai/mãe. E depois é vê-los entregues ao deus-dará; a, com 7 e 8 anos, não respeitarem o tempo e o espaço dos outros, a não dizerem os obrigadas e se-faz-favores, a exigirem, a não comerem em casa alheia, porque os pais não despenderam 5 minutos para intervir nas situações que pediam uma lição de educação (à parte, baixinho), a explicarem que aquilo está errado, por que é que está errado e quais as consequências de acções assim erradas.

E pronto, já dei um bocadinho de tempo de antena ao frenético queixoso que há em mim. Esta lista será um work in progress, isto se eu me lembrar de vir actualizar se deparar com mais «...people who ought to be smashed across the face repeatedly with a piece of heavy mining equipment.»

18 outubro, 2016

Part of the job


Harvey: You see that guy over there by the fax? (gestures to Aaron) Take a good look. He's never gonna make partner.
Mike: Okay. Let me guess. Because he threw a lousy rookie dinner?
Harvey: No, because he doesn't get it.
Mike: Get what?
Harvey: He doesn't get that doing good work isn't the whole job. Part of getting it is that things like the dinner actually matter, even when you don't think they do. Look, you were giving me shit this morning because I come and go when I want to. You know why I can do that? Because when I got here, I dominated. They thought I worked 100 hours a day. Now, no matter what time I get in, nobody questions my ability to get the job done. Get it through your head. First impressions last. You start behind the eight ball, you'll never get in front.

Suits, 1x3

13 outubro, 2016

Coisas de argonauta


Queria só deixar aqui registado que, hoje, ao fim de anos e anos de lealdade, abandonei o leme do Opera para navegar na Internet. Agora sou Croma e estou a adorar ter uma parvoíce desmedida de separadores abertos e não ter o pc a engasgar-se. Plus, as extensões.

12 outubro, 2016

Peixe-gato do dia seguinte


Houve três ou quatro ocasiões em que entrei em casas peculiares, casas cujas paredes desprendiam um cheiro característico quando se lhes metia o pé dentro. Na infância, lembro-me do cheiro da casa da minha tia esgrouviada Conceição, da minha tia Lurdes e mais recentemente do cheiro da casa do meu tio Beto e tia Clara. É um perfume morno, rústico, reconfortante. Dever-se-á talvez ao facto de serem casas antigas, mas não deixa de ser um cheiro que eu adoro e que para mim representa a definição de cheiro de lar. Julguei sempre que não se poderia explicar este odor recorrendo ao imaginário olfactivo popular, mas estava enganada. Ontem provei tão inusitado cheiro. Provar, de comer com a boca. Sabe a peixe-gato do dia seguinte! Verdade. Fiquei encantada com a sinestesia caída no meu prato de forma inesperada, mas passado algum tempo não pude deixar de me sentir ligeiramente incomodada pelo facto de estar a comer algo que eu associava às fundações literais de uma casa...

11 outubro, 2016

It's getting chilly outside




Só para registar que hoje caiu a primeira chuva deste outono.

08 outubro, 2016

Uma trombeta no focinho


O Trump é uma personagem que ganhará sempre toda e qualquer discussão, grande ou pequena, é inescapável. É aquela personagem que todos encontramos em vários momentos ao longo da vida, alguém sem qualquer pingo de auto-consciência e sempre pronto para fazer apostas desprezíveis cujo resultado é evidente para toda a gente qual será mas que ele é o único que se atreve a apostar e se gaba de ganhar - ganhar algo que está mais do que ganho (ou perdido) à partida, e que ele aposta precisamente porque não tem como falhar e depois ainda se vangloria do facto de ter ganho (nada).

06 outubro, 2016

The seventies



03 outubro, 2016

Um registo com muito azul


Visitando Nazaré em fim de verão...


 
Nazaré Challenge, local onde o McNamara apanhou a onda de quase 30 metros.
























...Com paragem numa gelataria que podia facilmente ver o seu nome alterado para "Absurdo", tal a monstruosidade dos seus gelados de copo.

(enjoei, eu e a maioria das pessoas à mesa)
(do gelado, não de Nazaré)

30 setembro, 2016

Um desses blogs, sim.



Respeitando a natureza efémera de certos prazeres (e uns, fora de estação...)

26 setembro, 2016

O porquê


Ia começar por dizer que setembro é o mês que menos gosto de escrever e logo a seguir apropriar-me de uma forma leviana e banal da designação rentrée para dizer como não deixa de ser um mês promissor, ou, antes, um mês que dá início à execução de promessas que andaram abafadas durante o verão, mas «porque sim» parece-me uma justificação mais do que suficiente para criar um blog. Um blog assim.