Houve três ou quatro ocasiões em que entrei em casas peculiares, casas cujas paredes desprendiam um cheiro característico quando se lhes metia o pé dentro. Na infância, lembro-me do cheiro da casa da minha tia esgrouviada Conceição, da minha tia Lurdes e mais recentemente do cheiro da casa do meu tio Beto e tia Clara. É um perfume morno, rústico, reconfortante. Dever-se-á talvez ao facto de serem casas antigas, mas não deixa de ser um cheiro que eu adoro e que para mim representa a definição de cheiro de lar. Julguei sempre que não se poderia explicar este odor recorrendo ao imaginário olfactivo popular, mas estava enganada. Ontem provei tão inusitado cheiro. Provar, de comer com a boca. Sabe a peixe-gato do dia seguinte! Verdade. Fiquei encantada com a sinestesia caída no meu prato de forma inesperada, mas passado algum tempo não pude deixar de me sentir ligeiramente incomodada pelo facto de estar a comer algo que eu associava às fundações literais de uma casa...
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